CABEÇA DE NEGRO

IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO EM FORTALEZA

Igreja de nossa senhora do Rósario dos homens pretos da capital

Nossa Senhora do Rosário é festejada no dia 7 de outubro. A data foi instituída pelo Papa Pio V, em 1571, quando do aniversário da batalha naval de Lepanto. Conta-se que os cristãos saíram vitoriosos porque invocaram a intercessão da Virgem Maria rezando o rosário. A origem da reza do terço é muito antiga. Consta que vem dos orientais, que usavam pedrinhas para contar suas orações feitas em voz alta.

O venerável Beda sugeriu aos irmãos leigos a utilização de grãos enfiados em um barbante para recitar os Pai-Nossos e Ave-Marias. Em 1328, a Virgem Maria teria aparecido a São Domingos, recomendando que se rezasse o rosário para a salvação do mundo. Rosário significa coroa de rosas oferecida a Nossa Senhora. Os dominicanos foram os maiores responsáveis pela divulgação e devoção do rosário no mundo.

A igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fortaleza, capital do Ceará, Estado localizado no nordeste brasileiro, foi construída em taipa, por volta de 1730, pelos negros escravos, que a utilizavam como local de orações, e abrigou a irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Capital.
Em 28 de abril de 1742, o visitador Lino Gomes Correia, ao passar pela Vila de Fortaleza, determinou que os senhores de escravos lhes dessem o dia de sábado livre para granjearem o sustento e nos dias santos para a igreja de Nossa Senhora do Rosário. Em 27 de dezembro de 1747, ocorreu ali a primeira celebração da festa de Nossa Senhora do Rosário. Em 1755, a igreja foi reconstruída em pedra e cal. Como parte de sua conservação, outros reparos foram realizados em 1855 e 1872. Depois de alguns anos em processo de restauração, a igreja foi novamente entregue aos fiéis no ano de 2004, com celebração de missa, cortejo de maracatus e apresentação do cantor e compositor cearense Calé Alencar.

A igreja de Nossa Senhora do Rosário encontra-se na praça General Tibúrcio, conhecida como praça dos Leões, no centro da cidade, fazendo parte de um conjunto arquitetônico de interesse histórico, que compreende o polígono das ruas Sena Madureira, Guilherme Rocha, Floriano Peixoto e São Paulo. Construída inicialmente em taipa e palha, foi reconstruída posteriormente no sistema tradicional de alvenaria autoportante, com o apoio das tesouras de madeira que compõem a estrutura da coberta.

Apresenta uma planta baixa, segundo o esquema da nave central e uma nave lateral, tendo ainda um átrio em sua entrada principal e dois altares laterais, além do altar-mor, na parte posterior da edificação. Possui também espaço destinado ao coro e uma tribuna onde se destaca a utilização de balaústres. As fachadas do prédio seguem a simplicidade do espaço interno, destacando-se, na fachada principal, uma torre lateral e um frontão triangular.

O prédio é tombado pelo Patrimônio Histórico estadual, através do Decreto n° 16.237, Livro do Tombo Artístico, fls. 03, de 30 de novembro de 1983.

IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

Antônio Bezerra de Menezes - In Descrição da Cidade de Fortaleza, Imprensa Universitária da UFC, CE, 1992.

É constante a tradição de que um preto africano pelos anos de 1730 em diante erigiu uma capelinha a Nossa Senhora do Rosário, no local em que se acha hoje a desse nome, a qual ficava um pouco afastada da vila. Esta era, como toda construção daqueles tempos, de taipa e de palha. Nela rezavam os pretos seus terços, novenas e outros atos de devoção. Em 1849 fez a Irmandade eleição para juízes e juízas, Rei e Rainha de Nossa Senhora do Rosário, e deu o seguinte resultado :

Rei – José Bezerra.
Rainha – Garcia da Costa.
Juiz – José de Sousa, escravo do Capitão-mor.
Juiz – Francisco José, escravo de José Sousa Pinto.
Juízas – Inácia Pereira d’Azevedo e Garcia Ferreira Moura.
Escrivães – Domingos Gonçalves José de Barros, Antônio dos Santos Braga, Mariana Ferreira Xavier e Inácia de Aguiar.
Mordomos – Antônio de Sousa, Antônio de Brito, José Rodrigues das Neves, Manuel de Brito, Domingos, escravo do Padre Domingos Ferreira, Chaves, Aniceto Coelho, Francisco Pereira, Francisco da Cruz, José Vicente, José Furtado, Florência de Brito, Faustina Viegas, Margarida Dias, Bernarda Ferreira Chaves, Ana, crioula, Domingos d’Assunção, Isabel Franco Teixeira, Helena Dantas.

JUÍZES BRANCOS
Juiz – coronel José Bernardo Uchoa.
Juíza – Teresa de Jesus Maria, mulher de Matos Rabelo.
Escrivão – ajudante Francisco Vaz de Oliveira.
Escrivã – Maria José, mulher de Antônio de Freitas.
Procurador Tesoureiro – capitão Domingos Francisco Braga.
Procuradores – Pedro Gonçalves de Matos e José Rodrigues das Neves.